Vamos usar a imaginação? Imagine que o processo de
aprendizagem é um bolo em camadas. Para que o bolo seja delicioso e para que
não se desmorone é importante que cada camada seja robusta e esteja ligada às
outras camadas de forma consistente.
Que camadas compõem então este bolo chamado aprendizagem?
Uma das camadas é a Memória.
Onde guardamos as informações que apreendemos? Na memória. E a memória adora
receber informação das mais variadas fontes, ou seja, informação que lhe chega
através dos cinco sentidos.
Outra das camadas é a Atenção.
Sem atenção como conseguiríamos absorver o que nos rodeia? Quando falamos em
atenção, falamos em dirigir a atenção para o estímulo pretendido, manter a
atenção nesse estímulo e ignorar quaisquer interferências externas.
Outra camada? A Velocidade de Processamento. A velocidade com que processamos a linguagem,
quer seja falada ou escrita, é um preditor de sucesso na aprendizagem e na
vida. Felizmente esta é uma camada bastante maleável. Esqueça por momentos a
doçura do bolo em camadas e pense num computador. As crianças são diferentes
numa multiplicidade de áreas e a velocidade de processamento não é excepção.
Imagine que algumas crianças têm a sorte de ter um computador apetrechado com
internet de velocidade analógica e outras com banda larga. A aprendizagem
requer, para além da atenção e da memória, uma “ligação” de alta velocidade. A
velocidade de processamento é importante para quanto é aprendido, para aquilo
que se consegue recordar, assim como para o grau de atenção que se consegue
manter
Voltamos às camadas do bolo? Segue-se a Sequenciação.
Esta permite criar padrões de funcionamento. Já imaginou como seria diariamente
termos de reaprender a vestirmo-nos? A sequenciação é a estrutura de
consistência da aprendizagem. Ela permite que o cérebro preveja resultados e
estabeleça padrões com significado. É também a sequenciação, com a ajuda da
motivação, que faz a ligação entre todas as estruturas da aprendizagem (é como
se fosse o chantilly ou recheio de chocolate do nosso bolo).
A neuroplasticidade, que nada tem a ver com o facto do cérebro ser
feito de plástico, tal como as caixinhas onde guardamos comida no frigorífico,
reforça as estruturas de desenvolvimento da aprendizagem. A plasticidade
cerebral permite que o cérebro se adapte de forma a criar fortes alicerces para
qualquer situação de aprendizagem.
Aos pais cabe um papel activo e
crítico no sentido de levar para casa, para a vida, para a educação dos seus
filhos, os valiosos contributos da ciência. De que forma? Potenciando a
aprendizagem desde o nascimento. Uma das formas de o fazer é através do
diálogo, mesmo antes da crianças recorrer à palavra para se expressar.
E quando a estrutura da aprendizagem
se demonstra frágil? Nunca é tarde de mais para intervir! Na consulta de
Psicologia recebemos alguns jovens rotulados de “rufias, desordeiros,
arruaceiros”. Investigando a fundo, descobrimos que muitas vezes estas crianças
possuem dificuldades de aprendizagem e que o ser rufia foi uma opção que surge
na sequência do pensamento distorcido “Não há nada a fazer comigo, por isso,
antes mau que burro”. Ou seja, estes jovens preferem ser falados por serem os
mauzões do que serem conhecidos por não conseguirem aprender. Felizmente o
cérebro, e a sua plasticidade, são aliados das crianças que demonstram
dificuldades de aprendizagem. O cérebro desenvolve-se para acompanhar a criança
para onde a sua imaginação e as ideias a queiram levar.
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